Apelido


Nem sempre apelidos são pejorativos. Existem apelidos carinhosos, apelidos que substituem nomes complicados de serem pronunciados, existem até mesmo aqueles que fazem reverência, destacando uma qualidade de alguém. Por vezes, os apelidos surgem como uma forma de identificar o pertencimento de alguém a um grupo social.

Trabalhei com uma turma na qual todos possuíam apelidos e ninguém se incomodava com isso. Nessa turma havia o "Sapão", um rapaz muito ativo cujo tamanho da boca e do sorriso justificava o apelido. O irmão mais novo do Sapão matriculou-se na escola e não demorou muito para receber seu novo nome: "Girino". Nessa turma, havia um garoto cujo apelido era "Mentira". Fiquei curioso sobre a origem desse apelido e perguntei a um de seus colegas:

- Vem cá, por que vocês o chamam de Mentira? Ele inventa muitas histórias?

- Não! É que mentira tem pernas curtas.

Olhando para o Mentira a andar no pátio, reconheci o apelido.

Em uma turma de oitava série, eu tratava os alunos de "Meus Monstrinhos" e eles me tratavam de "Monstrão". O tratamento que se dá a alguém depende do animus com que é feito. É possível destratar alguém o chamando de "lindo", e elogiar chamando-o de "animal".

Os apelidos e brincadeiras podem servir para transformar em banal algo que, tratado de outra forma, poderia levar ao afastamento de uma pessoa. Isso aconteceu com um sobrinho meu. Ele estudava na terceira série do Ensino Médio quando sua mãe teve um sério problema de doença e foi internada em uma clínica. Tive a oportunidade de visitá-la junto com ele. Nós dois choramos abraçados a porta da clínica após a visita. Ele segurou uma barra muito pesada durante esse período com uma maturidade que poucas pessoas apresentariam.

Após a alta de sua mãe, com os problemas já resolvidos, esse meu sobrinho começou a ter distúrbios neurovegetativo, consequência de período de tensão pelo qual havia passado. Algumas vezes ele caiu no chão e começou a tremer, com uma reação semelhante a de um ataque epilético. Isso aconteceu em sala de aula, perto dos colegas. A forma que os colegas encontraram de aliviar as tensões desses acontecimentos foi banalizar o ocorrido, transformando-o em algo natural.

Fui procurar meu sobrinho no curso no qual estudava. Cheguei no corredor que dava acesso à sala de aula e perguntei a um de seus colegas por ele. Esse colega virou para trás e berrou:

- Chama o "Vibracall"! O tio dele está aqui!

Eu não sabia se ria ou se chorava diante da situação.