Morgado
Prof. Morgado já estava com a doença adiantada e eu conversava com ele sentado no patamar da escultura com a superfície do Mobius, símbolo do IMPA. Ele me disse: não me importo de ser lembrado como um grande professor, quero ser lembrado como um bom homem, como meu pai foi.
Quem teve a oportunidade de conviver com o Morgado não saiu sem marcas. Seu humor fino, sua inteligência, seu caráter e sua generosidade pontilhavam a relação de qualquer um que dele se aproximasse. Ele tratava todas as pessoas com a mesma reverência. Participava de um coquetel na Presidência da Fundação Getúlio Vargas e, na manhã seguinte, convidava o porteiro para "bater" uma macarronada sem igual em um barzinho que ele conhecia. Nunca o vi destratar qualquer pessoa. Por vezes, professores se dirigiam a ele com as mais variadas perguntas e ele sempre respondia com todo respeito, mesmo às perguntas despropositadas.
Foi, sem dúvida, um dos maiores professores que conheci. Uma vez perguntei como ele organizava o pensamento. Ele me disse que sempre imaginava que estava escrevendo em um quadro-negro. Outra vez, lhe perguntei o que ele seria se não fosse professor de Matemática. A resposta foi "professor de outra disciplina". Eu era capaz de escutá-lo por horas, dentro e fora das salas de aula.
Ele era muito mais do que um grande mestre, ele era um Bom Homem!