Piada de Loura
Temos que ter atenção nos risos que soltamos ao ouvir uma piada. Rir pode revelar nossos preconceitos. Piadas cujo personagem é um negro, um português ou uma loura, além de politicamente incorretas, são contadas por pessoas preconceituosas e devem ser combatidas porque fomentam o preconceito. Se alguém lhe contar uma piada cujo personagem é uma mulher loura, substitua a loura por uma mulher qualquer, genérica. Se com a substituição não houver graça, a piada é pura expressão de preconceito.
Defendia essa posição em uma sala do terceiro ano do Ensino Médio quando uma aluna sentada na primeira fila, e que era loura, argumentou que eu estava errado, que mesmo trocando os nomes o preconceito com as louras ainda existia. E me acusou de preconceituoso. Eu contra-argumentei que não era preconceituoso, eu não achava que ser loura fosse condição suficiente para que uma mulher fosse burra. Uma das pessoas que fomentou essa imagem foi Marilyn Monroe, que desempenhou papeis de burra (ou ingênua), mas que de burra Monroe não tinha nada. A aluna continuou dizendo que eu era preconceituoso e que não adiantava trocar loura por morena que o preconceito continuava. Propus-me a contar uma piada que me foi contada como piada de loura e que, trocando a personagem, continuava provocando risos. E comecei:
Já passava das dez horas da noite e um rapaz estava descansando em seu apartamento quando recebeu um telefonema de seu melhor amigo.
- Oi, cara, algum problema?
- É ... Eu estou tentando montar um quebra-cabeça e não consigo.
- Separa as peças que tenham algum lado reto e começa por elas.
- Já procurei! Não tem nenhuma peça com os lados retos.
- Então dá uma olhada na caixa do quebra-cabeça. Normalmente vem a figura que você tem que montar na frente da caixa.
- Eu já vi! É um tigre!
- Espera um pouco que eu vou dar uma chegadinha aí para montarmos o quebra-cabeça juntos.
O rapaz se arrumou, foi até a casa do amigo e bateu na porta. Ele abriu e, logo após apertarem as mãos, o rapaz perguntou:
- Onde está o quebra-cabeça?
- Na mesa da cozinha.
Ao abrir a porta da cozinha o rapaz paralisou e, logo em seguida, exclamou:
- Pelo amor de deus, coloca os sucrilhos dentro da caixinha!
A turma caiu na gargalhada. Para a minha surpresa, a aluna loura que estava me chamando de preconceituoso permaneceu séria. Virei-me para ela e perguntei:
- O que houve? Você não gostou da piada?
- Não! Não entendi.
Foi difícil continuar a aula, os risos foram gerais, nem eu conseguia me conter.
Essa história não é uma piada. Isso aconteceu mesmo.